A ENSE assistiu, no passado dia 30 de junho, na Costa da Caparica, no 1º Workshop de Combustíveis Sustentáveis organizado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT UNL) em parceria com a Plataforma de Combustíveis de Baixo Carbono, cujo objetivo é a criação de uma estratégia integrada de redução da pegada de carbono.
Além das intervenções de especialistas da academia e de representantes de várias empresas, nomeadamente, a Ambitermo, a CVR, a Dourogás e a Floene, a iniciativa contou com uma sessão paralela dedicada à apresentação dos resultados do projeto AmbWTE – Integrated Biomass and Waste-to-Energy System.
Dos projetos apresentados, destacaram-se projetos como o MOVE2LOWC, que visa a produção de diferentes biocombustíveis para o transporte aéreo e rodoviário de mercadorias e passageiros. O projeto está atualmente subdividido em quatro projetos de desenvolvimentos específicos na área de biocombustíveis líquidos e de biocombustíveis gasosos e encontra-se em fase de testes para os últimos ajustes tecnológicos que deverão ter lugar antes de um scale-up.
Além destes projetos, foram ainda apresentados outros subprojectos, como a empresa Algae for Future (A4F), com enfoque na produção de biojetfuel, a partir de microalgas através do processo inovador de liquefação hidrotérmica (HTL) e de hidroprocessamento de óleos vegetais por fermentação de biomassa lenhocelulósicas. Atualmente, o principal desafio da empresa, a BIOTEC, no scale-up do projeto é a escassez de matéria-prima sustentável, nomeadamente de óleos vegetais alternativos ao mercado alimentar.
A CVR, uma das empresas convidadas, trabalhou em parceria com a Universidade Nova de Lisboa e com a Universidade do Minho para otimizar processos de produção de biocombustíveis e destacou algumas barreiras legislativas existentes no processo para a produção de combustíveis derivados de resíduos (CDR) em Portugal.
Segundo a empresa, a partir de 2015 notou-se uma diminuição do fabrico de carvões a partir da biomassa florestal, precisamente pela alteração no enquadramento legislativo neste setor. Pelo exposto pela CVR, os carvões produzidos a partir de resíduos florestais poderiam já serem utilizados para o abastecimento das indústrias cimenteiras e siderúrgicas, tal como acontece na Alemanha, nos dias de hoje.
A CVR também chamou a atenção para a subutilização do biodiesel em Portugal uma vez que a especificação técnica do gasóleo rodoviário (EN 590) limita a percentagem máxima de incorporação a 7% (v/v) e a possibilidade de produção do mesmo a partir de resíduos. A empresa mostrou que em 2017, aproximadamente 50% do óleo alimentar usado (OAU), a nível nacional, não era recolhido de uma forma eficiente, o que, na perspetiva da empresa representa uma oportunidade de negócio.
Da necessidade de promover o tratamento dos resíduos e misturas de hidrocarbonetos a bordo dos navios, nasce o Eco Green Power®, o primeiro jetfuel do mundo com o selo de sustentabilidade ISCC (International Sustainability and Carbon Certification), da ECO-Oil. A empresa de tratamento de resíduos faz, desta forma, um upgrade nos resíduos de combustíveis para fazer um combustível renovável de qualidade premium.
A necessidade de investimento na captura de carbono da atmosfera, foi outra das temáticas abordadas durante o encontro, onde se ressalvou as potencialidades do armazenamento geológico de carbono, uma vez que existe tecnologia e países que já trabalham com esse tipo de armazenamento, como por exemplo a Dinamarca, a Noruega e os Países Baixos.
Entre os desafios apresentados foram referidas as lacunas ao nível da regulação existente e a falta de diretrizes nacionais para o licenciamento de empresas e espaços para se desenvolver este tipo de atividade.
Por fim, foram ainda apresentados outros projetos aliados à produção de hidrogénio a partir de biogás para utilização em veículos pesados, pela HYCHEM, cujo objetivo é igualmente a redução dos atuais custos de processo e de tecnologia. O hidrogénio tem a vantagem de poder ser injetado nas linhas de gás natural sem muitas alterações, sendo o principal desafio tecnológico o seu armazenamento. A melhor alternativa apresentada atualmente é a tecnologia de Liquid Organic Hydrogen Carrier (LOHC).
A Dourogás, cujo enfoque é na produção de gás natural 100% renovável, sob a forma de biometano, é um dos parceiros dos subprojetos da MOVE2LOWC e converte atualmente dióxido de carbono – obtido a partir de biogás – em biometano, por um processo melhorado de metanação com hidrogénio.
Por sua vez, a Floene, maior rede de distribuição de gás em Portugal, destacou o seu investimento em hidrogénio verde, produzido sem emissões de dióxido de carbono.
Desta forma, a iniciativa permitiu conhecer as soluções e o que está a ser feito atualmente a nível nacional e europeu, bem como futuras perspetivas e necessidades de desenvolvimento no setor dos combustíveis sustentáveis.