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amarelo
Nível de Risco
Existência de indícios de possíveis problemas que possam afetar significativamente o sector petrolífero.A probabilidade de se tornar uma ameaça real é baixa, mas deverá existir uma monitorização contínua da situação.

Causes:
Devido aos problemas de fornecimento elétrico, a ENSE encontra-se a monitorizar os impactos no Setor Petrolífero Nacional.

Os efeitos da Pandemia no Setor Petrolífero

25/05/2020

Os efeitos da Pandemia na Economia

As consequências da propagação global da pandemia provocada pelo Covid-19 paralisaram de forma esmagadora a economia mundial com efeitos avassaladores sobre os níveis de procura e consumo de bens e serviços e, logo, com uma correlação direta nas necessidades de utilização e fruição de matérias-primas como o petróleo e os produtos petrolíferos.

Apesar de ser uma evidência científica a existência de ciclos económicos que geram efeitos no normal funcionamento das nossas sociedades, o que não é normal é quando a contração se sente de forma abrupta, global e em simultâneo, não permitindo um tempo ou margem de adaptação das atividades económicas para procurar minimizar as externalidades negativas sobre a criação de riqueza, evitar maiores perdas de emprego ou adaptação dos modos de produção, distribuição e consumo.

O que se passou, sobretudo, nos meses de março, abril e maio, ficará como um caso de estudo de como uma pandemia pode criar uma falência operacional na atividade da economia mundial, em que o “shutdown” se fez de forma legislativa ao impor o encerramento de atividades empresariais, confinamento de muitos cidadãos, o que paralisou decisões de investimento, consumo, e reduziu de forma drástica o funcionamento de setores vitais como o turismo e transportes (destacando-se aqui o setor da aviação).

Sem que se saiba ainda como se irá processar a fase de desconfinamento e reabertura de atividades económicas, a duração dos efeitos desta pandemia nos níveis de contração de consumo e de restabelecimento dos níveis de confiança dos empresários, investidores e consumidores certamente prolongar-se-á durante algum tempo, havendo desde já um indicador claro que é a estimativa da Comissão Europeia de contração do PIB português de 2020 em cerca de 6,8%, que representa um corte sem precedentes na evolução da criação de riqueza no nosso país.

Resulta evidente que esta crise global terá de ter respostas coordenadas a uma escala supranacional, mas neste tempo de reorganização importa perceber alguns efeitos produzidos no funcionamento do setor petrolífero a nível mundial e nacional, sobretudo porque é uma área chave da sociedade e em que há uma correlação direta com os níveis de confiança dos agentes económicos e as necessidades dos sistemas produtivos.

O que sucedeu no Setor Petrolífero Mundial

O setor petrolífero mundial foi dos mais afetados por esta crise pandémica, na medida em que estava a atravessar uma fase de um excesso de oferta de produto sem precedente e em que o ritmo de exploração e disponibilização de petróleo estava muito acima dos níveis de evolução da procura. Nesse sentido, e depois de, por exemplo, o petróleo BRENT ter iniciado o ano de 2020 a valer 66,25 dólares/barril, ainda antes do confinamento provocado pelo Covid-19 já as cotações estavam em sentido descendente tendo registado um valor de 54,45 dólares no inicio de fevereiro, mas o ritmo acelerou de forma expressiva com as decisões dos governos de iniciarem as fases de encerramento das atividades o que reduziu de forma drástica os níveis de procura, sendo que o valor mínimo foi alcançado no dia 21 de abril quando a cotação atingiu 19,33 dólares.

 

 

Fonte: Bloomberg

 

Deste modo, a Agência Internacional de Energia (AIE), no seu “Oil Market Report” de maio de 2020, prevê que, no 2º trimestre de 2019, a procura global de petróleo seja menor em cerca de 19,9 milhões de barris diários face ao período homólogo de 2019, estimando que no conjunto do ano de 2020 se registe uma descida de 8,6 milhões de barris diários face ao verificado em 2019. No entanto, a AIE realça que esta situação está ainda muito dependente dos riscos de novas vagas do surto que possam gerar novos constrangimentos no normal funcionamento das economias.

Esta queda acentuada da procura e uma descida menos pronunciada do lado da oferta gerou uma nova pressão em baixa sobre os preços, que foi consequência da situação de saturação da capacidade instalada de armazenamento, bem vísivel no crescimento dos stocks da indústria dos países membros da OCDE que registaram uma subida de 68,2 milhões de barris para atingir um total de 961 milhões de barris (46,7 milhões de barris acima da média verificada nos cinco anos anteriores).

Deste modo, também o setor petrolífero mundial teve de começar um ajustamento significativo das suas opções, nomeadamente com um incremento dos cortes de produção e oferta para procurar reequilibrar o mercado e evitar uma situação de rutura na capacidade de armazenagem mundial.

O que sucedeu no Setor Petrolífero Português

Também em Portugal este cenário de crise no nível de atividade económica foi sentido de forma sensível durante os meses de março (apesar de forma ainda parcial) e abril, traduzindo-se numa redução homóloga dos totais de introduções ao consumo registados junto da ENSE de, respetivamente, -15,35% e -51,90%.

 

Total de Introduções ao Consumo em Portugal (em toneladas)20192020Variação Homóloga
Março651 054551 146 -15,35%
Abril700 295336 815-51,90%

 

Fonte: Balcão Único da Energia da ENSE

 

Se analisarmos por tipo de categoria de produto, podemos ver que, como esperado, registaram-se quedas significativas na gasolina e no gasóleo, mas que as introduções ao consumo de JET foram as mais afetadas (com uma descida homóloga em março e abril de, respetivamente, 34,31% e 93,38%), sabendo-se o impacto que esta pandemia teve no transporte aéreo de passageiros e a decisão da esmagadora maioria das companhias de suspenderem os voos programados.

 

Introduções ao Consumo de Gasolinas (em toneladas)20192020Variação Homóloga
Março 82 99765 644-20,91%
Abril91 49235 392-61,32%

 

Fonte: Balcão Único da Energia da ENSE

 

Introduções ao Consumo de Gasóleos, excluindo o JET (em toneladas)20192020Variação Homóloga
Março 399 553350 357-12,31%
Abril424 383235 172-44,59%

 

Fonte: Balcão Único da Energia da ENSE

 

Introduções ao Consumo de JET (em toneladas)20192020Variação Homóloga
Março110 54972 625-34,31%
Abril125 5778 318-93,38%

 

Fonte: Balcão Único da Energia da ENSE

 

Introduções ao Consumo de GPL e Fuel (em toneladas)20192020Variação Homóloga
Março57 95462 520+7,88%
Abril58 84357 933-1,55%

 

Fonte: Balcão Único da Energia da ENSE

 

Durante esta fase mais aguda que passou pelo estado de emergência à atual situação de calamidade, a Entidade Nacional para o Setor Energético, assegurou uma monitorização permanente sobre o funcionamento do setor por forma a garantir que em nenhum momento deixaria de estar assegurado o abastecimento do país, criando mecanismos operacionais de resposta e estando em constante ligação com os operadores. Disso foi exemplo, a reativação da Rede de Emergência de Postos de Abastecimento (REPA) que se manteve aberta ao público, mas também o funcionamento do Centro de Coordenação Operacional da Energia que garantia a existência de um ponto de contacto permanente, e a operacionalização de novas funcionalidades no Balcão Único da Energia que garantiram que nenhum problema deixava de ter resposta pronta e eficaz num setor energético que é vital para o funcionamento do país.

Assim, temos sido testemunhas de um movimento recessivo global, que gerou efeitos nocivos em cadeia sobre o desempenho das economias nacionais pelo que se entende bem as preocupações apresentadas pelos governos no sentido de desenvolver planos de recuperação económica que, acompanhando os procedimentos de salvaguarda de saúde pública, consigam o objetivo de, tanto quanto o possível, mitigar os efeitos diretos que esta contração de atividade está a gerar, sem exceção, em todo o mundo.

A nível global, mas também nacional, é tempo de fazer os ajustamentos necessários para, num contexto de maior distanciamento social, não deixar de reativar as atividades económicas que acrescentem o valor necessário à criação de riqueza, que alavanque o emprego e que permita relançar os níveis de produção industrial e de confiança nos investidores e consumidores.