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amarelo
Nível de Risco
Existência de indícios de possíveis problemas que possam afetar significativamente o sector petrolífero.A probabilidade de se tornar uma ameaça real é baixa, mas deverá existir uma monitorização contínua da situação.

Causes:
Devido aos problemas de fornecimento elétrico, a ENSE encontra-se a monitorizar os impactos no Setor Petrolífero Nacional.

Uma nova equação energética

20/10/2020

Tudo começou ainda antes do primeiro disparo que marcou os anos da I Grande Guerra, com a decisão de Winston Churchill, ainda como Primeiro Lord do Almirantado, que numa decisão inédita converteu os navios da Armada Britânica, de carvão Inglês para petróleo importado, decisão que lhe garantiu a supremacia naval à época. Para garantir o abastecimento da frota, o futuro Primeiro Ministro assumiu o controlo de uma empresa anglo-persa, precursora de uma importante petrolífera, que opera ainda nos dias de hoje. Essa companhia detinha direitos de exploração no território que hoje conhecemos como Irão. Esta decisão foi um dos principais contributos que marcaram o futuro da indústria petrolífera, e que ditou a história do seculo XX na procura e exploração de petróleo, com efeitos geopolíticos que perduram nos tempos de hoje, basta acompanhar as recentes escaladas bélicas no estreito de Ormuz, a lembrar as antigas disputas pelos campos petrolíferos de Bakú ou do Kuwait. A verdade é que a geoestratégia do petróleo permite que poucos Estados ditem as regras a muitos outros que estão totalmente dependentes da importação de petróleo para garantir o funcionamento da economia. Uma prova desta realidade é o momento que vivemos hoje, confrontados com um combate sem quartel a uma pandemia, acresce uma crise petrolífera provocada por excesso de produção, muito por efeito da redução da procura, e que ameaça as estruturas de armazenamento em todos os países. É que, se olharmos para o fenómeno do ponto de vista da redução dos preços aos consumidor, pode parecer um fenómeno positivo, contudo, o aumento do consumo vai obrigar à subida abrupta dos preços, pois as petrolíferas, como empresas racionais, vão no sentido de recuperar os lucros malbaratados pela redução do consumo, e isto tem efeitos na própria economia, uma vez que existe uma forte ligação entre os preços no consumidor dos produtos energéticos e os preços do petróleo. Destacando a importância das expectativas, Hamilton [1] (2003) demonstrou que os aumentos dos preços do petróleo são muito mais importantes do que as descidas e que os aumentos após um período de preços estáveis tendem a produzir maiores efeitos do que os que corrigem descidas anteriores, explicando uma relação não linear entre os preços do petróleo e a atividade económica, o que no quadro atual pode ser devastador para a economia nacional, principalmente no momento da recuperação, que se espera para breve.

A luta que hoje travamos para conter a pandemia é também uma oportunidade para tomar decisões de fundo, aconteceu sempre ao longo da nossa história, tal como fico claro logo no início deste texto. E a decisão de fundo que como sociedade temos que assumir é se vale a pena continuar a apostar numa fonte energética que, além de poluente, está integralmente dependente da vontade de países que controlam a produção e comercialização de petróleo?

Esta questão pode perfeitamente ser contornada por Portugal, pais com muito sol, vento e acesso às marés, alterando a geopolítica da energia, com um forte investimento nas energias renováveis. Entre 2200 e 3000 horas anuais de sol, regiões montanhosas e insulares de elevado potencial eólico, cursos de água com condições ideais para a instalação de hídricas e cerca de 33 000 km2 de floresta, são apenas alguns dos argumentos que justificam uma aposta decisiva nas energias renováveis. Para além dos evidentes benefícios de natureza ambiental, irão beneficiar, de igual modo, a economia, gerando novas empresas, novas atividades económicas e, em última análise, criando emprego. As excecionais condições naturais de que Portugal desfruta colocam o país numa posição ímpar no panorama europeu.

 
 
 

[1] Hamilton, J.D. (2003), What is an oil shock?,Journal of Econometrics 113, 363-398